O mercado das vaidades

Eclesiastes 1.1,2

Quantas pessoas já tiveram a impressão de que nadaram, nadaram, nadaram e morreram na praia, como diz um ditado popular? Quantos parecem que correram atrás do vento? Quantos investiram tempo, saúde, alegrias, dinheiro e ao final concluíram que de quase nada valeram seus esforços? Quantos já não chegaram um dia a conclusão de que sua vida foi ou ainda é um somatório de inutilidades descabidas?

Talvez nos venha à mente neste instante o nosso velho homem pecador de antes da conversão ou quem sabe aquele vizinho ou parente obstinado e incrédulo que conhecemos. Entretanto, gostaria que refletíssemos em nós mesmos, com nossa teologia bem montada e com nossos vícios eclesiásticos de membros de Igreja. Não vai adiantar muita coisa se ficarmos olhando para o quintal dos outros, pois esta palavra tem a ver com você e comigo.

Possivelmente o Rei Salomão foi o autor deste livro. Estudiosos, em sua maioria, concordam que ele tenha escrito Eclesiastes em sua velhice, mergulhado em idolatria e desiludido com um estilo de vida extravagante e materialista. Salomão registra suas reflexões negativas a respeito da futilidade de buscar felicidade nesta vida, à parte de Deus e da Sua Palavra. O incrível é que até hoje muitas pessoas também tentam fazer a mesma coisa que Salomão, tentar viver debaixo das vaidades deste mundo.

Sem dúvida alguma este livro é de grande valia para a Igreja contemporânea. Em um tempo de frenética busca a felicidade, Eclesiastes vem como um alerta vermelho àqueles que desejam fazer do cristianismo um trampolim para a concretização de seus desejos mais carnais. Todavia, Deus é bom e sua misericórdia dura para sempre. Esta é a oportunidade de refutarmos definitivamente de nossos corações a praga de um evangelho superficial e mundano que vem sutilmente maculando a noiva de Cristo, Sua Igreja.

Não queira se esconder dos fatos. Existe um mercado de vaidades bem próximo de você. Ele pode estar no seu trabalho, na sua escola, no comercio popular ou no shopping, ou pior, dentro de sua própria casa, diante de toda sua família neste momento. As ofertas são tentadoras, uma pechincha, tão barato que nem analisamos direito o rótulo. Sabe de uma coisa, nem adianta olhar o rótulo, os produtos deste mercado não prestam, estão todos estragados, lixo, um monte de imundice.

Ao lermos Eclesiastes nos deparamos com algumas vaidades humanas que nos deixam incomodados com o reflexo de nós mesmos. Nossa natureza de pecado anseia por estas vaidades, somos famintos destes produtos. Neste livro a vaidade tem significado de “coisas vãs”, “futilidades”, “vacuidade”, coisa sem nenhum tipo de valor, como um ídolo inútil e falso. São estas vaidades que fazem parte do mercado diabólico e humanista que devemos ficar atentos.

Estaremos vendo apenas algumas vaidades dispostas neste mercado. Em Eclesiastes 2.1 encontramos: “Disse eu no meu coração: Ora vem, eu te provarei com alegria; portanto goza o prazer; mas eis que também isso era vaidade”. Quantas vezes buscamos os prazeres deste mundo? E não estou me referindo apenas ao prazer sexual. O texto mais adiante fala sobre o conforto de uma boa casa com pomares de frutas e jardins. A vaidade do status social e do poder que isto representa mesmo adquirido de forma honesta.

Não é pecado ter conforto, mas quando isto se torna um ídolo, algo imprescindível para a felicidade, o homem se engrandece e Deus se torna apenas um objeto na realização de seus desejos. Salomão experimentou todos os prazeres deste mundo, mas nenhum deles preencheu o vazio de sua alma. Será que estamos fazendo o mesmo com a nossa teologia do dinheiro no bolso, do carro na garagem, do status de um homem ou mulher que venceu na vida com seus próprios méritos?

Vaidade louca que nega a Cristo. Futilidade humana que perece ao rasgar o evangelho da renuncia. Onde estão aqueles que morreram para o mundo? Pelo contrário, o desejo de alguns é que Jesus nunca volte para não ter que perder aquilo que conquistaram com tanto trabalho. Esta é a miséria de um deus menor, que de senhor se tornou servo para o desfrute dos prazeres de alguns neste mundo. Será que você esta buscando no mercado das vaidades os prazeres para este mundo? A Bíblia diz: “Deleita-te também no SENHOR, e te concederá os desejos do teu coração. Entrega o teu caminho ao SENHOR; confia nele, e ele o fará.” (Salmos 37.4,5).

Mas o mercado das vaidades oferece outros produtos de igual valor destrutivo. Em 1 João 2.16 diz: “Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo”. Os desejos provenientes do homem é concupiscência da carne e a soberba da vida faz encher o coração do homem de orgulho. Somos mortais, o pecado nos deu seu salário que é a morte. Alguns trilham a caminhada da vida como se nunca fossem experimentar a morte, mas todos nós haveremos de enfrentá-la até a volta de Cristo. O que é mais importante a morte ou a vida? Em Mateus 10.39 diz: “Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor de mim, achá-la-á.”

Neste mercado o homem soberbo acha que é insubstituível. Todos devem reverenciá-lo devido a sua grande importância neste mundo ou na Igreja. Mas Salomão escreve: “Todos vão para um lugar; todos foram feitos do pó, e todos voltarão ao pó” (Eclesiastes 3.20). Somos pó, nossa vida só é especial em Deus. Devemos nos curvar aos Seus propósitos e entregarmos a Ele os sucessos que obtivemos nesta vida. Em Eclesiastes 7.20 diz: “Na verdade que não há homem justo sobre a terra, que faça o bem, e nunca peque”. É chegado o tempo de pararmos com o auto-endeusamento e com a idolatria de líderes falíveis e finitos que como nós hão de experimentar a morte e o julgamento de Cristo.

As gôndolas do mercado das vaidades estão repletas de produtos perecíveis. O egoísmo enche o coração de vazio. Em um mundo egocêntrico, primeiro lugar eu e os outros que dêem seu jeito. Umas das grandes mazelas da sociedade moderna é o “narcisismo”. Em Eclesiastes 4.8 diz: “Há um que é só, e não tem ninguém, nem tampouco filho nem irmão; e, contudo não cessa do seu trabalho, e também seus olhos não se satisfazem com riqueza; nem diz: Para quem trabalho eu, privando a minha alma do bem? Também isto é vaidade e enfadonha ocupação.” Não há coisa pior que uma pessoa que somente vê o seu umbigo. As pessoas têm que servi-lo. Tudo gira ao seu redor. Ele não pode ser contrariado, pois seu pensamento é inquestionável. A verdade é que para ele todos os outros são apenas degraus para o seu sucesso.

Como um pecado sozinho não é muito o mercado das vaidades oferece variedades para que o apetite carnal nunca seja saciado. Com o orgulho instaurado na vida do soberbo, a ganância é um prato atraente aos olhos. Em Eclesiastes 5.10 diz: “Quem amar o dinheiro jamais dele se fartará; e quem amar a abundância nunca se fartará da renda; também isto é vaidade.” Quantos amantes do dinheiro têm em uma sociedade capitalista? Mesmo o mais pobre do ganancioso acha no dinheiro a resposta para a sua felicidade. A cobiça é o estado deprimente da alma egoísta. Quantos trabalham desesperadamente acreditando que o dinheiro trará paz. Alguns evangélicos estão se deixando levar pelas belas propagandas do mercado das vaidades. Mamom é um deus cruel, quando menos se espera ele pede sua parte da herança, e esta parte é toda.

Gostaria de concluir que o mercado das vaidades está aberto 24 horas por dia. Nele podemos conseguir tudo aquilo que uma alma sem Cristo pode ter. As vaidades deste mundo são bem maiores que estas abordadas neste estudo, mas podemos imaginar o quão horrendo é o porão deste mercado. A vista as coisas são aparentemente boas, no entanto, tudo não passa de armadilha para escravizar o homem em seus próprios desejos maus. Não podemos fechar este mercado diabólico, mas podemos dizer não aos seus apelos de consumo. Em Eclesiastes 12.13,14 diz: “De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo o homem. Porque Deus há de trazer a juízo toda a obra, e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau.” Que nossa vida faça algum sentido em Cristo.

Pr. Eurico C. G. da Costa
preuricodacosta@ig.com.br
Pastor na Sétima Igreja Batista de Campos

 

De quem é a culpa?

De quem é a culpa?

Conta-se uma história de que certa ocasião um homem que estava preso em uma penitenciária de segurança máxima ao receber a visita de sua mãe corre em sua direção. Ela alegre ao reve-lo também se direciona a ele com suas mãos estendidas ansiando por um abraço acolhedor. Os dois se encontram e de repente num lance grosseiro o homem a segura pelos cabelos e morde com toda sua força o seu nariz. A mulher cai no chão sem saber ao certo o que aconteceu e eis que seu filho lhe impõe o dedo e começa a lhe dizer aos gritos: - A culpa é sua, a culpa é sua. A senhora me colocou aqui nesta prisão. A mulher ainda mais atordoada o pergunta sentindo o gosto de seu sangue na boca: - O que você esta falando? Minha culpa? - Sim, sua culpa. Se a senhora não tivesse me mimado tanto desde criança. Se a senhora tivesse me corrigido nas tantas vezes que eu aprontava pela rua e no colégio. Se a senhora ao menos conversasse comigo quando eu chegava à casa de madrugada fedendo bebidas e cigarros. Mas não, a senhora nunca se importou comigo, a senhora nunca me amou. Agora eu estou aqui por sua culpa.

Esta história parece familiar com outra mais conhecida na Bíblia: “E chamou o SENHOR Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás? E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me. E Deus disse: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses? Então disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi. E disse o SENHOR Deus à mulher: Por que fizeste isto? E disse a mulher: A serpente me enganou, e eu comi.” (Gênesis 3.9-13).

De quem é a culpa? Nas duas histórias o outro é sempre culpado pelos erros cometidos. O homem que estava preso entendia que sua mãe era a causadora de seu presente sofrimento. Adão responsabilizou Eva pelo seu pecado e Eva da mesma forma acusou outro, a serpente. Ambos os casos a culpa estava no lado de fora. Nesta forma de pensar se alguma coisa acontece de errado à responsabilidade primária sempre recai nos braços do outro.

Será que isto acontece com você? Ou quem sabe estas histórias são apenas ficções descabidas? Talvez possa ocorrer conosco de uma maneira menos dramática. O homem natural e o cristão carnal sempre estão dispostos a remover de suas consciências o pecado. Desta forma, a culpa, que a primeira instância, é o sinal de que algo não esta correto, deve ser deslocada para bem longe de si. Como Adão, na maioria das vezes, o homem tende a se esconder por de trás de uma boa acusação. É por isto que vemos tantos acusadores em nosso meio.

As coisas não estão bem à culpa é de minha esposa. Tudo deu errado o diabo cirandou em minha vida. Estou no vale Deus se esqueceu de mim. Nossas respostas muitas vezes são uma afronta ao caráter de Deus. Hipócritas! Ouço Jesus dizendo aos Fariseus de ontem e de hoje que não conseguem se arrepender de seus pecados, porque simplesmente eles não se sentem pecadores. Disse Jesus: “O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: O Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano [...] O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: O Deus, tem misericórdia de mim, pecador!” (Lucas 18.11,13).

Existe uma tendência moderna em considerar que tudo é relativo e o que para mim é errado para o outro pode ser certo. Seguindo este conceito secular o indivíduo não pode ser considerado culpado de fato, pois sua consciência é maior que a moral ou a ética existente em seu contexto social. Lógico que há questionamentos e ferrenhas discussões sobre este assunto, mas não podemos descartar que esta forma de pensar tem ganhado cada vez mais força no presente século.

Somos responsáveis pelos nossos atos. Deus fez a possibilidade do livre-arbítrio e o casal no Éden o tornou real. Quando Adão e Eva pecaram eles implantaram no mundo o direito de escolhas. A vontade de Deus sobre o homem foi parcialmente transposta e nossa vontade passou a ser considerada. Foi isto que Josué disse ao povo de Israel: “Porém, se vos parece mal aos vossos olhos servir ao SENHOR, escolhei hoje a quem sirvais; se aos deuses a quem serviram vossos pais, que estavam além do rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais; porém eu e a minha casa serviremos ao SENHOR.” (Josué 24.15).

Mas afinal de quem é a culpa? Minha, sua, de todos nós, pois não existem inculpáveis, mas justificados e remidos por Jesus. Como o livre-arbítrio entrou no mundo pelo pecado sou culpado ou absolvido pelas escolhas que faço. Se nego a Cristo continuo longe e miseravelmente destituído da Sua glória, mas se o recebo em meu coração sou justificado para viver em Seu reino e não mais me martirizar pelos erros já perdoados.

Sendo assim, a culpa não é o final, mas o meio para atingirmos os propósitos de Deus. Ela deve ser a porta de entrada para o arrependimento e confissão de pecados, pois se assim não for ela somente terá o peso de um remorso, que ao contrário do choro de Pedro pode nos levar a morte como Judas. Precisamos nos arrepender com urgência, a todo o momento ou corremos o risco de achar que o culpado é sempre do outro.

“E se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra.” (2 Crônicas 7.14). É chegado o tempo de nos arrependermos de todo o nosso coração para que Deus possa sarar nossa vida por inteira. Basta de acharmos que somos inocentes e coitadinhos. Devemos assumir a responsabilidade e enfrentarmos nossos problemas de frente. Por isto, apresentemo-nos com humildade pedindo ao Senhor que remova de nós a vergonha do pecado.

Pr. Eurico C. G. da Costa
preuricodacosta@ig.com.br
Pastor Auxiliar da Sétima Igreja Batista de Campos

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